domingo, 11 de maio de 2014

O QUE FAZER PARA AJUDAR DIANTE DA DESGRAÇA

Nesses últimos dias a família da minha mulher sofreu um grande baque: um rapaz de 20 anos morreu num acidente de carro. Junto com ele, morreram outros dois. O acidente de carro foi daqueles que infelizmente acontecem frequentemente com os jovens: viagem de noite por estrada não muito boa, excesso de velocidade, alguma chuva e um caminhão vindo em direção contrária. O resultado vai marcar profundamente a vida de dezenas de pessoas. Uma tristeza.

Quando esse tipo de coisa acontece, você talvez fique se perguntando o que fazer. Deve tentar consolar ou permanecer calado(a)? Se a pessoa em sofrimento fizer uma pergunta, tentando encontrar sentido para a tragédia, deve procurar responder? E o que dizer?

O que fazer nos primeiros momentos
Minha recomendação é simples: sente-se ao lado da pessoa que sofre, abraçe-a e chore junto com ela. Apenas isso. Passe a mensagem que está solidário(a). Que a dor da outra pessoa também é sua.

Evite falar muito. Comunique-se mais através de atitudes solidárias do que de palavras. E nunca procure dar explicações nesses momentos iniciais. Não há coisa pior do que alguém chegar num enterro e tentar consolar, dizendo coisas como: “Conforme-se, pois foi Deus quem quis assim”. Já vi isso acontecer e, acredite, o resultado nunca é bom. 

Nada do que você falar naquele momento vai ajudar e basta uma palavra infeliz, mesmo com a melhor das intenções, para deixar uma marca ruim. Há sim coisas que podem ser ditas, mas depois, quando os ânimos serenarem um pouco.

E se a pessoa, no seu desespero, se revoltar contra Deus, não se escandalize. Inúmeros homens da Bíblia fizeram isso. Pode ter certeza que Deus compreende. E Ele não vai usar palavras desesperadas contra quem está sofrendo. 

O que fazer mais tarde
Passados os momentos iniciais, aqueles(as) que sofreram a tragédia passam realmente a vivenciar sua perda. É quando “cai a ficha”, conforme se diz popularmente. A perda passa a ser sentida no dia-a-dia e a vida muda para pior. E a maior parte das pessoas que se solidarizou nos primeiros momentos precisou voltar para suas próprias vidas. 

É aí que você pode ser mais útil. Primeiro fazendo-se presente na vida de quem sofre. E depois ajudando a responder às dúvidas que vão surgir.

Essas dúvidas são bem comuns: Por que isso aconteceu? Por que Deus permitiu que a desgraça afetasse tanto minha vida? Posso continuar a confiar nesse Deus? Há respostas para essas questões, mas infelizmente elas não são fáceis de dar e muito menos de receber, pois contrariam a lógica humana.

O fato é que Deus não nos revela todas as razões para aquilo que faz ou permite que aconteça. E a razão é simples: há limites para a mente humana. Para o que conseguimos entender. 

Aceitamos essa limitação em relação a muitas questões. Por exemplo, não sabemos bem como será o final dos tempos. E vivemos com essa ignorância sem maiores problemas. 

Mas é muito mais difícil aceitar a falta de explicação para uma catástrofe. As pessoas querem entender. Precisam entender para sentir que têm algum controle sobre suas vidas. A desgraça as faz sentir vulneráveis e inseguras - o que garante que ela não vai se repetir? 

A solução que Deus oferece para esse impasse é estranha para a lógica humana: a fé. Ele nos pede para aceitar aquilo que não é possível entender pela razão através da fé n´Ele, da confiança que Deus é amoroso, misericordioso e sempre interessado naquilo que é melhor para os seres humanos.

É isso que você precisa dizer para quem está sofrendo. E reconheço que não é fácil seguir por esse caminho. Em meio à dor e ao sentimento de fragilidade gerado pela catástrofe, encontrar sentido nas coisas da vida apenas mediante a confiança em Deus não é um pedido fácil de ser atendido. 

Alguns vão conseguir dar esse passo, mas muitos outros infelizmente não. Esses últimos vão procurar outros caminhos que fornecem respostas mais faceis, como o espiritismo, através da comunicação com os mortos (sabemos que isso não é possível, mas essa não é a questão aqui).

Se a pessoa que sofre não aceitar o caminho que Deus oferece, não a culpe e nunca diga que ela está pecando. Afinal, as pessoas reagem de diferentes formas à dor. 

Tenha paciência e continue a falar sobre Deus para ela. E peça ajuda ao Espírito Santo para mudar a mente daquela pessoa - nunca se esqueça que Deus tem meios que não estão ao seu alcance. Apenas faça sua parte e confie em Deus.

Com carinho  

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O FILME SOBRE NOÉ

Toda vez que aparece um novo filme baseado na Bíblia acontecem muitas discussões. Tenho para mim que todo filme bíblico, desde que seja respeitoso, vale a pena, porque, no mínimo, gera debate sobre alguns temas importantes. Além disso, as pessoas normalmente têm dificuldade de visualizar o que aconteceu milhares de anos atrás e um filme, quando bem feito, ajuda as pessoas a terem um melhor entendimento quanto aos tempos bíblicos.

Lembro que, quando eu era pequeno, foi lançada uma versão espetacular da história da saída do povo de Israel do Egito. O filme, intitulado “Os Dez Mandamentos”, tornou famoso o ator Charlton Heston, que representou Moisés. Algumas cenas - como a abertura do Mar Vermelho para passagem do povo de Israel - causaram muito impacto. Como nota negativa houve o fato do filme ter romantizado bastante a história, inclusive "criando" um romance entre Moisés e a rainha do Egito. Mas toda obra literária, quando filmada, passa por mesmo esse processo e a Bíblia não iria ser a exceção.  

O fundamental é que aqueles que viram o filme, como eu, saíram do cinema com uma percepção mais clara daqueles fatos fundamentais da história de Israel - o período de escravidão de Israel no Egito, os milagres que Deus realizou para que o povo pudesse sair dali e, sobretudo, a importância da figura de Moisés. Até hoje, quando penso no êxodo de Israel, vem à minha mente as imagens daquele filme.

O caso mais recente é o filme sobre Noé, uma obra milionária que está gerando enorme bilheteria e também muita discussão. Foi assim mesmo que aconteceu? Noé existiu de fato? A arca cabia todos os animais? E assim por diante.

Noé existiu mesmo?
Há um erro muito comum quando as pessoas vão discutir os relatos da Bíblia: elas costumam partir para o tudo ou nada. Ou aceitam que os fatos aconteceram exatamente como uma leitura literal do texto bíblico dá a entender ou, se concluirem que não aconteceu assim, passam a pensar que a Bíblia mentiu. Não há meio termo possível.

Ora, quem age assim não tem muita ideia do que são as obras literárias. É comum que essas obras - e a Bíblia não é exceção - contenham textos que precisam ser interpretados de forma figurativa, pois fazem uso de símbolos para transmitir ideias importantes. E a existência de símbolos não torna a mensagem menos verdadeira. 

Um bom exemplo são as parábolas que Jesus contou. Não são necessariamente relatos de fatos reais - o "bom samaritano" ou o "filho pródigo" não existiram necessariamente -, mas nem por isso os ensinamentos que essas parábolas trazem deixam de ser menos verdadeiros. O livro do Apocalipse está cheio de imagens como a “besta que sai do mar”, o “dragão”, a “grande meretriz”, etc e ninguém em sã consciência acredita nessas coisas literalmente. É claro que são símbolos de outras coisas, como o Anti-Cristo, o diabo, o sistema desse mundo, etc. 

E ocorre exatamente assim com o relato da grande enchente da época de Noé (Gênesis capítulos 7 e 8): há muito simbolismo nesse texto da Bíblia. Por exemplo, o arco iris como memória da promessa que Deus não vai trazer outro dilúvio para punir o mundo.

Na verdade, a memória coletiva da humanidade inclui o relato de uma enchente catastrófica. E essa memória vai muito além da Bíblia – por exemplo, o chamado “Épico de Gilgamesh” é um relato muito parecido ao da história de Noé, escrito pelo povo sumério, muito antes da Bíblia ser composta. É claro que a Bíblia interpreta os fatos relacionados com essa enchente à luz da crença do povo de Israel em Deus, enquanto relatos como o de Gilgamesh olham para os mesmos fatos do ponto de vista das religiões pagãs. E é absolutamente natural que seja assim.

Houve sim uma grande enchente e um homem que conseguiu salvar sua família construindo um barco. Mas há diversas questões adiocinais a serem esclarecidas. Por exemplo, houve realmente uma enchente universal? 

Pensar numa enchente que cobriu toda a terra seca existente no mundo, somente deixando de fora os picos dos montes mais altos, não parece muito razoável. Seria necessária uma quantidade de água absurda, que não teria depois para onde escoar - o processo descrito no relato bíblico como as "águas baixaram". É mais razoável pensar - e essa ideia não contraria em absoluto a Bíblia - que houve uma grande enchente afetando todas regiões onde essas tradições nasceram e foram registradas.

E é fácil entender que quando a Bíblia se refere a uma enchente que atingiu "todo mundo" está usando uma figura de linguagem. Por exemplo, quando eu digo que “todo mundo” esteve, na minha casa na minha festa de aniversário, não estou dizendo que 7 bilhões de pessoas estiveram ali e sim que todas as pessoas que importavam para mim vieram. 

É exatamente assim que o relato bíblico deve ser entendido. Tratou-se de um fenômeno que aconteceu numa determinada região da terra – os estudos atuais indicam que tudo se passou na região da Mesopotâmia e do chamado Mar Negro, onde a civilização no Oriente Médio começou. Parece ser que houve uma ruptura do istmo que tornava o Mar Negro um lago, hoje o estreito da cidade Isatambul (Constantinopla), ocasionando a invasão desse lago pelas águas do Mediterrâneo, gerando uma inundação catastrófica nas suas margens.

Onde o filme acerta?
Há erros no filme, como os tais gigantes de pedra, coisa que não tem qualquer sentido. Mas prefiro me concentar aqui nos vários acertos. Primeiro, a indicação que a natureza daquela época – pelo menos 10.000 atrás – era bem diferente daquela que conhecemos hoje. Animais e plantas eram distintos e se comportavam de outra forma. E isso é razoável, pois sabemos que os seres vivos mudam ao longo do tempo, inclusive para se adaptar às mudanças do ambiente como, por exemplo, a tal “era do gelo”.

Sabemos que muitas espécies de seres vivos desapareceram e outras surgiram, inclusive por causa da intervenção dos seres humanos. Portanto, o filme acerta em mostrar uma natureza distinta daquela que conhecemos hoje. Não sei se era tão distinta como o filme mostra, mas certamente era diferente.

Acho que o filme também acerta em mostrar a precariedade da vida humana naquela época. A população era muito pobre e simplesmente lutava para sobreviver – qualquer problema fazia com que as pessoas morressem de fome. Assim, num ambiente daqueles, é notável que alguém tenha conseguido construir um barco para salvar sua família.

Finalmente, acho também positivo o filme mostrar as dúvidas de Noé como ser humano - a dificuldade dele para entender exatamente qual era seu papel no meio daquele evento catastrófico e o que Deus esperava dele. 

Resumindo, mesmo com diversas falhas, é um filme que vale a pena ser visto e depois comparado com o relato da Bíblia. Certamente você vai aprender bastante se fizer isso.


Com carinho